Por | Ana Palma, Formadora e actriz de teatro profissional
Para se formar um actor voltamos às bases daquilo que nos define como pessoas, que nos define enquanto seres que vivem em constante partilha, constante troca, em constante comunicação, e que se organizam em comunidade…que sobrevivem em comunidade.
Durante a formação de um actor, reaprendemos a andar, a respirar, a olhar, a escutar, a falar e a ser ouvidos, a dominar a linguagem verbal e não verbal, a sermos altos e baixos, bonitos e feios; reaprendemos a ver e a sermos vistos, representantes credíveis dos nossos pares, da comunidade, que testemunha o nosso trabalho na plateia. Verdadeiros camaleões, na adaptação à missão artística e cívica que nos é entregue.
Aprendemos a transformar os nossos “defeitos”, ou características, em virtudes. Nós somos a nossa matéria prima. O actor trabalha o seu corpo, a sua voz, emoções, tornando-se médium, veículo de comunicação vivo, pulsante, que respira. Este trabalho requer rigor, exaustão e uma ética apropriada. Princípios de respeito por si próprio e pelo Outro são exigências fundamentais.
Como entidades individuais, fundimo-nos num colectivo de pessoas que se entreajudam para atingir a melhor performance em cena. As companhias de teatro (palavra companhia significa os que partilham o pão) são compostas por profissionais de teatro que colocam o melhor de si próprios ao serviço dos outros. Os actores reaprendem a olhar para o Outro, recuperando a pureza do olhar da criança e a sua criatividade na resolução de conflitos, trabalhando sempre para o bem comum, meta que se atinge num progressivo exercício critico e auto-crítico. Conhecer-me, trabalhar-me, para enriquecer o grupo. Para atingir uma performance extraordinária. Para fazer a diferença.
Ao ler esta breve síntese sobre a formação do actor, faço a ponte com o mundo das empresas e da formação. Aplicar as técnicas e metodologias da formação de um actor às empresas… a si, que lê, e aos seus colaboradores. Façamos então um exercício: onde leu no texto acima, “actor” substitua por “colaborador da minha empresa”, e “cena” , bem como, “companhia de teatro”, substitua por “empresa”.
Propomos a aplicação de técnicas e metodologias de teatro na formação de profissionais das empresas, como potenciadores de team building; na formação de comunicadores de excelência; na preservação de um espaço de jogo/lúdico, que potencia a criatividade e a capacidade de responder positivamente ao imprevisto. Propomos o teatro como competência que desencadeia conhecimento: de si próprio, dos que o rodeiam e da comunidade a que pertence.
Propomos um teatro de pessoas para pessoas: ao serviço da excelência, para uma melhor organização do trabalho, maior eficácia, plena realização profissional, ao serviço das pessoas, para si.
Obrigada.