O tema tem estado na ‘berra’ desde que Susan Cain lançou o livro “Silêncio: O poder dos introvertidos num mundo que não consegue parar de falar”, que se popularizou numa conferência TED Talk em 2012, sobre o mesmo tema. Daniela Toscano, Consultora de Recursos Humanos, explica que “sujeitar um introvertido a trabalhar num ‘open space’ é como pedir a alguém que escreva com a mão contrária àquela com que escreve naturalmente”.
Susan Cain acredita que devemos lutar contra a “estúpida e mal ponderada” celebração dos extrovertidos. À publicação online Bloomberg Businessweek a autora referiu que “as nossas mais importantes instituições, como as escolas e os locais de trabalho, são criadas, sobretudo, para extrovertidos e para a sua necessidade de estímulos. Os introvertidos, por outro lado, sentem-se mais ‘vivos’, mais ‘ligados’ e mais capazes quando estão em ambientes mais silenciosos e mais discretos”, que hoje em dia já são difíceis de encontrar na maioria das empresas.
Daniela Toscano, Consultora de Recursos Humanos e Trainer em Programação Neurolinguística (PNL), explica que “uma pessoa extrovertida terá tendência para ir buscar energia na interação com estímulos externos. Costuma gostar de interagir com outras pessoas e, normalmente, sente-se bem numa reunião ou em encontros sociais, bem como em momentos de partilha ativa de ideias e projetos. Já alguém que seja introvertido pode ver no contacto social algo que lhe retira energia, ou que lhe exige bastante esforço. Deste modo, são pessoas que encontram mais conforto e satisfação quando podem trabalhar sozinhas e estão sujeitas a poucos estímulos externos.” Segundo a especialista, “um colaborador extrovertido irá com todo o gosto a eventos como feiras e congressos e gostará de falar sobre o que viu e aprendeu. Um colaborador introvertido terá mais gosto em que lhe seja lançado um desafio profissional que lhe permita pesquisar, ler e aprofundar o assunto para depois apresentar um relatório sobre as suas descobertas.”
“Alguém que seja introvertido pode ver no contacto social algo que lhe retira energia, ou que lhe exige bastante esforço. Deste modo, são pessoas que encontram mais conforto e satisfação quando podem trabalhar sozinhas”
No protótipo do local de trabalho moderno as secretárias estão agrupadas por ‘ilhas’ em espaços de trabalho abertos, ou em ‘open space’. A teoria, dizem os especialistas, é que esta forma de organização “encoraja a colaboração e cria oportunidades de interação entre colegas que podem ser proveitosas”. De acordo com Susan Cain em declarações à Bloomberg Businessweek, isto faz também com que “o silêncio e a calma necessários para um pensamento mais profundo, e a solidão que nutrem a mente de um introvertido, sejam destruídos.”
Um estudo publicado em 2013 na revista científica Journal of Environmental Psychology e que inquiriu cerca de 43 000 trabalhadores, revela que a ideia de que os ‘open space’ melhoram o estado de espírito dos trabalhadores e a sua produtividade não tem fundamento. Um outro estudo publicado em 2000 analisou os efeitos mentais e psicológicos de estar sujeito a três horas de sons típicos de escritórios simulados. Entre outras coisas, concluiu-se que os participantes desistiam mais cedo das tarefas que tinham entre mãos e que a sua força de vontade foi destruída pelo facto de terem que ouvir aqueles sons. Anne-Laure Fayard, investigadora da New York University, descobriu ainda que apesar dos trabalhadores de ‘open space’ falarem mais uns com os outros, essas conversas são sobretudo superficiais.
“Sujeitar um introvertido a trabalhar num ‘open space’ é como pedir a alguém que escreva com a mão contrária àquela com que escreve naturalmente”
Daniela Toscano, por sua vez, refere que “os chamados ‘open space’ favorecem a interação entre os colaboradores, o que é uma preferência para pessoas extrovertidas, pois falam e interagem mais com os outros. Mas uma pessoa introvertida, como prefere estar sujeita a um menor número de estímulos, pode ter maior dificuldade em concentrar-se no seu trabalho num escritório partilhado. É importante que nestes espaços possa ser criada a oportunidade de escolha. Ou seja, haver dentro do espaço locais mais sossegados onde a pessoa mais introvertida possa estar e nos quais consiga aceder a níveis mais elevados de concentração. Sujeitar um introvertido a trabalhar num ‘open space’ é como pedir a alguém que escreva com a mão contrária àquela com que escreve naturalmente. Conseguimos fazê-lo. Contudo, estamos em esforço, a qualidade na nossa escrita diminui e acaba por se tornar cansativo.”
Mas estas pessoas têm qualidades das quais as empresas podem tentar tirar proveito. A especialista portuguesa em Psicologia Positiva Aplicada, Daniela Toscano, garante que “os introvertidos são normalmente menos faladores do que os extrovertidos e por isso pode dizer-se que, habitualmente, estão mais dispostos para escutar e observar. Geralmente, são pessoas mais dispostas a abraçar projetos longos e com continuidade, uma vez que se sentem melhor a trabalhar sobre uma ideia de cada vez. E preferem também atividades que envolvam pesquisa e leitura. Tendem a refletir primeiro e a falar depois. O facto de ponderarem mais sobre os assuntos, pode conduzi-los a melhores decisões”, no entanto, podem ser também pessoas que por pensar mais e de uma forma mais aprofundada “acabam por correr menos riscos.”
Segundo os especialistas norte-americanos e Daniela Toscano, apesar de todas estas características que caracterizam os introvertidos, é errado pensar que estas pessoas não estão aptas para cargos de atendimento e que impliquem lidar com o público.
“Os extrovertidos têm tendência para dominar uma conversação, pelo que podem ser considerados mais comunicativos, enquanto os introvertidos se apresentam muitas vezes com uma postura mais reservada e com alguma relutância em falar. No que diz respeito a funções que impliquem interação comercial, como vendas e atendimento, quem obtém melhores resultados são os profissionais que conseguem encontrar um equilíbrio entre ambas as dimensões – Introversão e Extroversão – beneficiando da criação de momentos em que são mais expansivos e comunicativos e de outros em que se apresentam de forma mais passiva, escutando e refletindo. Ambos os perfis, introvertido e extrovertido, têm capacidade para estabelecer relações de qualidade e comunicar de forma competente com outras pessoas”, sublinha Daniela Toscano.
“Somos incentivados a nos comportarmos de forma mais extrovertida, com a promessa de que isso nos trará melhores resultados. O que nem sempre é válido. Importa reforçar que ambos os perfis são interessantes e úteis numa equipa de trabalho.”
A especialista portuguesa explicou ainda que numa sociedade em que se continua a olhar para a introversão como um defeito ou falha, “ser introvertido ou extrovertido não deve ser entendido como a identidade da pessoa, uma vez que somos muito mais do que esta característica. Socialmente existe uma propensão para associar introversão a timidez ou a comportamentos antissociais. Mas alguém que é tímido, por exemplo, tende a afastar-se do contacto social por receio ou ansiedade, desejando ter a coragem para se conseguir integrar. Uma pessoa introvertida pode estar feliz e confiante ao estar sozinha e não manifestar a vontade de estar com os outros, em diversas ocasiões. Muitas vezes aquilo que em sociedade se considera (mais) funcional, não é aquilo que determinado indivíduo tem para dar. Os meios de comunicação têm um papel importante no que concerne à passagem da ideia de que os extrovertidos estão melhor preparados para os ‘estilos de vida modernos’. Criou-se, sobretudo na sociedade ocidentalizada, a necessidade de olhar para as pessoas do ponto de vista de um extrovertido, considerando os extrovertidos como pessoas motivadoras e entusiastas e os introvertidos como desinteressados e tímidos. Somos incentivados a nos comportarmos de forma mais extrovertida, com a promessa de que isso nos trará melhores resultados. O que nem sempre é válido. Importa reforçar que ambos os perfis são interessantes e úteis numa equipa de trabalho. Cada pessoa, extrovertida ou introvertida, está mais orientada e sente-se mais preparada para diferentes tipos de tarefas e interações. No local de trabalho, é importante que cada profissional seja valorizado pelas suas melhores características e que tenha a oportunidade de as aplicar em benefício da qualidade final do trabalho.”