Ética na liderança, refletir com Iago e Otelo
Shake to Lead, programa de liderança com Shakespeare em IV Atos – a Ética é o I Ato desta “peça” que se torna uma caminhada a novas aprendizagens ligando as personagens intemporais de Shakespeare aos novos desafios da gestão e da liderança.
Uma das personagens mais polémicas criadas por William Shakespeare, considerada como arquétipo da desonestidade e da traição, é Iago.
Iago é um personagem da peça Otelo, o Mouro de Veneza, escrita no início do século XVII. É o antagonista da obra sendo considerado um dos homens mais inteligentes e influentes do exército comandado por Otelo, um general veneziano, mas que utiliza os seus atributos e inegáveis competências para espelhar aquilo que se pode definir como falta de integridade e de empatia.
Iago “destrói uma organização”, neste caso um exército mouro, através da desonestidade e da mentira, conduzindo ao suicídio da própria personagem principal, Otelo.
Otelo, o líder do exército, é valente e respeitado pelos seus soldados, mas vai tornando-se cada vez mais inseguro e influenciável.
Abordar a ética do líder revela a importância que os líderes devem dar aos valores da liberdade, da responsabilidade e da integridade
A comunicação que Iago faz, apesar de charmosa, é vazia de valores e traidora nas ações. Iago é um manipulador – as “amizades” em que investe são obstinadamente definidas para atingir os seus objetivos pessoais e alimentar ressentimentos. Iago nunca atua em prol do seu exército e no respeito pelos outros.
A personagem Iago é o arquétipo do que deve ser uma liderança integra e verdadeira, assente em valores e comportamentos éticos. Já a personagem de Otelo, descreve um líder que não tem um caminho definido, lidando com o desconhecido com inseguranças e cedendo facilmente ao ressentimento e às palavras manipuladores de Iago.
No novo programa de liderança da Abilways – Shake to Lead, programa de liderança com Shakespeare em IV Atos – a Ética é o I Ato desta “peça” que se torna uma caminhada a novas aprendizagens ligando as personagens intemporais de Shakespeare aos novos desafios da gestão e da liderança.
Abordar a Ética do líder releva a importância que os líderes devem dar aos valores da liberdade, da responsabilidade e da integridade:
– Seja nas ações mais quotidianas ou perante decisões mais estratégicas;
– Seja na praxis destes valores para si próprio, enquanto líder de uma equipa, ou na comunidade a que pertence, seja em como os deve transmitir aos elementos da sua equipa por meio de palavras e atos.
A liberdade é a base da ética, com ela vem a responsabilidade
O autor espanhol Fernando Savater, filósofo espanhol, catedrático de Ética na Universidade do País Basco, destaca a liberdade como a base da ética pois é a partir dela que as escolhas são feitas e, essas escolhas projetam os valores que seguimos hoje e queremos continuar a seguir no futuro. Contudo, se a liberdade é a “base da ética”, com ela vem a responsabilidade na sua tripla dimensão:
- Responsabilidade pelas próprias ações;
- Assunção das consequências que as ações trazem;
- Reconhecer o impacto que podem trazer junto de si próprio, mas, e fundamentalmente, junto dos outros;
Desenvolver uma liderança ética requer uma predisposição do líder para a autoconsciência e autorreflexão – começa em ser honesto consigo próprio nos pensamentos, palavras e ações. O escritor Paulo Coelho partilha que “a honestidade é como um espelho: reflete quem você realmente é”.
A predisposição para a autorreflexão e a abertura para o desenvolvimento enquanto pessoa e enquanto líder é que permitirão melhorar a análise crítica das situações para uma tomada de decisão consciente e consistente.
A consciência e a consistência são elementos essenciais no desenvolvimento do comportamento ético do líder
Finalmente, destacar que a consciência e consistência são elementos essenciais no desenvolvimento do comportamento ético do líder – “de palavras está o mundo cheio” ou “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” como dizem estes ditados populares relevam o que deve ser a realização diária de comportamentos éticos.
O comportamento ético assenta em “duas faces da mesma moeda” ou, se quisermos, duas éticas:
- Ética de caráter – reside nas virtudes morais do individuo, os valores que o guiam independentemente do contexto e do papel que assuma numa organização ou na sociedade. A ética de caráter destaca a honestidade, a justiça e o respeito por si próprio e pelos outros. É uma ética muito arraigada a hábitos.
- Ética de personalidade – referida como a que está ligada aos traços de personalidade que cada individuo tem e que influenciam o seu comportamento na relação com os outros e nas tomadas de decisão mais ou menos éticas. A ética de personalidade atende à forma como se gere emoções, se está orientado para resolver conflitos, comunicar de forma mais assertiva e eficaz, se lida com a mudança, com diversidade e com a inclusão.
Em conclusão, refletir sobre a ética na liderança é refletir sobre a fórmula de sucesso que qualquer equipa ou organização – seja uma empresa ou um exército como o de Otelo – pois nela encerra a concretização prática e diária de valores intemporais (exemplo da liberdade, da responsabilidade e da integridade), a abertura permanente que os líderes e os liderados têm que ter para a autoconsciência, autorreflexão e crescimento pessoal e, por último, para a consciência e consistência com que se atua para aprofundar ambientes de trabalho colaborativos, positivos e que potenciem uma performance para benefício de todos. Por encerrar todo este vasto campo reflexivo, ética na liderança será sempre o I Ato de qualquer programa de capacitação de líderes.
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