Pode a emoção bloquear ou potenciar a afirmação de um líder?

Nuno Jorge, Head of Sales – Formação
e Consultoria, Abilways Portugal

O Shake to Lead, programa de liderança com Shakespeare em IV Atos – a Emoção é o II Ato desta “peça” que se torna uma caminhada de novas aprendizagens ligando as personagens intemporais de Shakespeare aos novos desafios da gestão e da liderança.

No ato da Emoção, a personagem de Hamlet assume a primazia – é um príncipe da Dinamarca com enormes questões emocionais. As angústias que Hamlet não consegue gerir (ou que gere com dificuldade) tornam-no uma pessoa desconfiada e hesitante.

O príncipe Hamlet é idealista e perspicaz. Contudo, a forma como utiliza a idealização das suas ações e objetivos torna-o um líder pouco ágil e adaptativo – a sua obsessão cega-o quanto à utilização dos seus meios e fá-lo cair em tragédia na relação com o seu amor, Ofélia.

A Ofélia pertence à nobreza do reino da Dinamarca, é o contraponto da obsessão de Hamlet. É uma personagem pura, ingénua, obediente e exposta à manipulação e imposições, primeiro, do seu pai, Polônio, e irmão, e, depois de se apaixonar por Hamlet, pelo próprio príncipe da Dinamarca.

Mas o que que tem em comum Ofélia e Hamlet? Ambos são levados por estados emocionais complexos e negativos – no caso do Hamlet a raiva, o deseja de vingança e as hesitações; com Ofélia, a ingenuidade, os sentimentos de culta e a apatia para tomar decisões sensatas.

“Os líderes mais eficazes são aqueles que são capazes de conectar-se com os outros a um nível emocional.” – Peter Drucker.

Abordar a Emoção do líder releva a importância que os líderes devem dar a quatro competências fundamentais e que devem ser trabalhadas diariamente pelas lideranças:

  • A autoconsciência emocional – é a partir deste autoconhecimento que permitirá o líder compreender as suas emoções, as suas virtudes e defeitos e, em função disso, como comunica e toma decisões, sejam elas mais quotidianas, sejam mais estratégicas;
  • A autorregulação – a dimensão do autocontrolo emocional é preponderante no que é vermos um líder bloqueado e angustiado, como observamos Hamlet em muitos momentos da obra de Shakespeare, ou um líder com capacidade de se superar e inspirar os outros.

A capacidade de autorregulação de um líder é alvo de muitos estudos académicos e integra diversificados modelos de liderança.

Estar em contextos profissionais com pessoas positivas, equipas com pessoas positivas ajudam à autorregulação do líder

A este nível destacaria que esta competência ou habilidade do líder está conectada com 3 dimensões:

– O realismo e pragmatismo na definição de objetivos e nas expetativas;

– A capacidade de aprender com os erros e, dessa forma, ser paciente;

– A necessidade de construir positividade nos hábitos pessoais e nos contextos, ou seja, estar em contextos profissionais com pessoas positivas (equipas com pessoas positivas ajudam à autorregulação do líder) e ter hábitos diários que favoreçam equilíbrios ao nível físico, mental, emocional e espiritual;

O líder treinar a capacidade para “procurar dentro de si” os estímulos necessários a cumprir os objetivos e propósitos que tem definido para a sua missão pessoal

  • A automotivação – que passa pelo líder treinar a capacidade para “procurar dentro de si” os estímulos necessários a cumprir os objetivos e propósitos que tem definido para a sua missão pessoal. Alguns autores referem a automotivação como “uma voz interior” que nos pode bloquear ou ajudar a agir positivamente em prol dos objetivos que temos na nossa vida.
  • As competências sociais – competência vasta ligada a domínios como a comunicação assertiva de um líder, a sua forma de gerir conflitos, as suas habilidades para influenciar e persuadir, a sua predisposição para negociar e construir pontes.

O desenvolvimento emocional na Liderança dos outros deve conduzir o líder a uma caminhada reflexiva e muito pessoal:

– O “eu” como compreendo as emoções que estou a sentir e como me relaciono e controlo todo o tipo de emoções que sinto;

– o “eu” mobilizador (ou bloqueador) que possa ter objetivos claros e, em função destes, ter uma capacidade de automotivação diária;

– O “eu” social, na relação com os outros, na empatia que me faz, enquanto líder, escutar os outros, atender aos seus pontos de vista, e ter a predisposição para fazer crescer todos os elementos da equipa aderindo à consciência plena de que se todos crescerem a equipa cresce e o papel do líder está a ser cumprido.

Para ajudar a esta caminhada reflexiva há diversos instrumentos (ou práticas) de apoio ao líder. Sinalizo dois para terminar esta reflexão: a possibilidade de aplicar um assessement específico de gestão emocional (no Shake to Lead utilizamos o https://www.ttisi.com/eq/ ) e a capacidade de encontrar, perante estilos de vida acelerados e por vezes frenéticos, espaços para partilha e feedback – seja com os colegas da equipa e da organização, seja no ecossistema social e familiar em que o líder está inserido. São estas duas práticas que podem fazer descobrir dentro de cada um os seus Hamlet e as suas Ofélia e, mais importante, como posso mitigar emoções tóxicas e, emocionalmente, afirmar-me com as melhores práticas de comunicação e liderança.

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