São muitos os líderes das organizações que ainda acreditam que a Inteligência Artificial (IA) é apenas mais um investimento tecnológico incremental. Mas obter uma vantagem competitiva com um investimento em IA requer uma transformação organizacional. Quem o diz é Nada R. Sanders e John D. Wood, autores da obra The Humachine: Humankind, Machines, and the Future of Enterprise, que num artigo publicado na Harvard Business Review explicam que empresas como a Google e a Apple não são bem-sucedidas apenas porque têm melhores tecnologias, mas porque souberam transformar os seus negócios de forma a que os seus recursos humanos sejam ainda melhores com a ajuda das ‘máquinas’.
Para perceber como empresas como a Google tiram partido de tecnologias como a IA, os autores fizeram um estudo, durante cinco anos, que envolveu executivos de algumas das maiores empresas do mundo. De acordo com os autores do estudo, aquilo que descobriram pode parecer contraintuitivo: competir na era da IA não é ser impulsionado pela tecnologia em si, mas mais uma questão de criar novas estruturas organizacionais que usam a tecnologia para trazer à tona o melhor nas pessoas.
As empresas envolvidas neste estudo mostraram que para que isso funcione, o modelo de negócio da organização deve integrar ‘máquinas’ e humanos para que estes se complementem. A tecnologia executa tarefas repetitivas e automatizadas de forma mais precisa e rápida. Já as pessoas encarregam-se de tudo o que tenha a ver com criatividade, intuição, adaptabilidade e inovação, características cada vez mais importantes para o sucesso de um negócio.
“As equipas humanas e de IA devem ser estruturadas de forma integrada. Isso permite que os humanos transcendam as suas limitações cognitivas comuns, sem confiar demais num robot para realizar tarefas humanas que requerem alto grau de cuidado e competência. Um exemplo disso vem do contexto médico, onde a IA oferece um enorme potencial, não como um substituto, mas como um complemento para os cuidados médicos. Um estudo recentemente publicado na revista científica Nature descobriu que, «o suporte baseado em IA para a tomada de decisão clínica melhora a precisão do diagnóstico.» Isso significa que a tomada de decisão humana altamente qualificada e de alto risco pode beneficiar da IA, desde que ela seja integrada corretamente no contexto da tomada de decisão humana”, revelam.
Nada R. Sanders e John D. Wood dizem também que implementar IA num negócio exige liderança e coordenação em todos os setores de uma empresa. Desbloquear todo o potencial dos recursos humanos de uma organização ao adotar IA estrategicamente requer revisitar a própria estrutura da empresa e como ela mede o seu progresso para cumprir a sua missão.
Estas são questões centrais para a identidade de uma empresa e essas mudanças estão, naturalmente, repletas de insegurança e risco. Contudo, segundo dizem os especialistas, os riscos são necessários para competir na era da IA.
“Intencionalidade, integração, implementação e indicação devem ser colocadas em camadas para criar uma empresa centrada no ser humano, mas governada por ‘inteligência sobre-humana’. Alcançar isso requer talento em todos os níveis para ter um pensamento sistémico, entender como o trabalho que está sendo feito se encaixa com o de outras pessoas em outras partes da organização, como atende às necessidades do cliente e como isso afeta a estratégia e o quadro financeiro da empresa. Seguindo este modelo, as empresas podem desbloquear a ‘inteligência sobre-humana’ sem perder o toque humano”, concluem.