Fernando Paulo Sousa, Vereador do Pelouro da Habitação e Coesão Social da Câmara Municipal do Porto.
Inclusão no mercado de trabalho, impacto do Projeto (D) de Eficiência, as respostas da Câmara Municipal do Porto
Sensibilizar os empregadores e a sociedade em geral para a importância de olhar para as pessoas com deficiência e/ou incapacidade com um olhar de normalização, respeitando a diferença de cada um
A inclusão no mercado de trabalho das pessoas com deficiência ou incapacidade é uma responsabilidade coletiva. De que forma é que o Projeto Dia D da Eficiência contribui para que a inclusão aconteça?
A inclusão no mercado de trabalho das pessoas com deficiência e/ou incapacidade é uma responsabilidade coletiva: dos candidatos que devem procurar proactivamente desenvolver as suas competências de empregabilidade e demonstrar o valor que podem aportar ao mercado de trabalho; dos empregadores que devem abandonar juízos de valor no momento de recrutar e selecionar candidatos; das organizações públicas e privadas que atuam neste domínio, pois devem apostar na criação de condições de desenvolvimento de competências, informação e capacitação de técnicos de acompanhamento, candidatos com deficiência e/ou incapacidade e dos empregadores.
O projeto (D) de Eficiência visa valorizar e promover as competências de empregabilidade das pessoas com deficiência e/ou incapacidade
O projeto (D) de Eficiência visa valorizar e promover as competências de empregabilidade das pessoas com deficiência e/ou incapacidade, estimulando a criação de condições mais favoráveis à sua integração no mercado de trabalho, numa dupla vertente:
1) Capacitação dos candidatos a emprego com deficiência e/ou incapacidade para o desenvolvimento das suas competências e ferramentas de empregabilidade, fomentando a sua futura integração profissional;
2) Informação e sensibilização das empresas para os apoios existentes à contratação e integração de pessoas com deficiência e/ou incapacidade nas suas equipas de trabalho e para a criação de acessibilidades infraestruturais.
O projeto foi estruturado em 4 momentos:
- D de Diversidade – Conferência de lançamento de cada edição do projeto (D) de Eficiência e partilha de testemunhos de casos de sucesso, destinada a candidatos com deficiência e/ou incapacidade e empregadores;
- D de Dinamismo – Seminário de partilha de boas práticas de contratação e integração de pessoas com deficiência e/ou incapacidade e apresentação dos apoios existentes à contratação, destinado a empregadores;
- D de Direitos e Deveres – Programa de capacitação em competências de empregabilidade destinado a candidatos com deficiência e/ou incapacidade;
- Dia D de Eficiência – Momento final do programa de capacitação que visa o encontro entre empresas e candidatos a emprego com deficiência e/ou incapacidade, através da realização de entrevistas de emprego de curta duração, e posterior feedback individual por parte de cada empresa.
Qual é que tem sido o papel da Câmara Municipal do Porto nesta iniciativa? Há outras iniciativas no domínio da inclusão a serem desenvolvidas pelo Município?
No âmbito do trabalho desenvolvido pela Divisão Municipal de Promoção da Empregabilidade, através da Cidade das Profissões, e do Gabinete de Inclusão, o Município reuniu um conjunto de entidades que atuam no âmbito da formação, emprego e integração profissional de pessoas com deficiência e/ou incapacidade e lançou-lhes o desafio de, em conjunto, criar e testar uma estratégia municipal de integração profissional de pessoas com deficiência e/ou incapacidade.
Assim, a Câmara Municipal do Porto através da Divisão Municipal de Promoção da Empregabilidade e do Gabinete de Inclusão, o Instituto do Emprego e Formação Profissional, a Associação Salvador, a Associação do Porto de Paralisia Cerebral, a Associação Empresarial de Portugal, o Instituto Politécnico do Porto e a Universidade do Porto organizaram-se de forma integrada e sistémica para o desenvolvimento de um projeto articulado, num modelo piloto, que incluía diferentes momentos/atividades de promoção da empregabilidade de pessoas com deficiência e incapacidade (que integrassem as instituições parceiras no projeto). O projeto (D) de Eficiência é resultado desse trabalho colaborativo e participado em prol de uma resposta mais inclusiva para a integração profissional de pessoas com deficiência e/ou incapacidade.
Se na primeira edição chegamos a 10 empresas, na segunda edição foram mais de 50 as empresas que se quiseram associar a este projeto.
Para além deste projeto, o Município desenvolve outros, sendo de destacar o trabalho desenvolvido pelo Gabinete de Inclusão, que pretende reforçar a rede de serviços de atendimento especializado para pessoas com deficiência, incapacidade ou necessidades especiais e seus familiares. Este Gabinete disponibiliza um conjunto integrado de meios para acesso à informação e resolução de questões, com vista à melhoria da qualidade de vida destas pessoas e ao pleno exercício da sua cidadania.
Focando na intervenção que é desenvolvida para pessoas com deficiência e/ou incapacidade, destaca-se ainda o projeto Golfe para Todos que visa proporcionar às pessoas portadoras de deficiência a prática de um desporto que, pelas suas características, contribui para o desenvolvimento da condição física e psicomotora, acelera o processo terapêutico, estimula o desenvolvimento cognitivo, promove um aumento da comunicação, potencia a sensação de bem-estar e equilíbrio e contribui para a integração social e para o aumento da qualidade de vida. Este projeto visa promover competências de inclusão de cidadãos com necessidades específicas de funcionalidade, incapacidade e saúde. Traduz-se na realização de sessões regulares de ensino e treino da atividade desportiva de golfe adaptado, dirigidas a pessoas com necessidades específicas de funcionalidade, incapacidade e saúde. Estas sessões decorrem na Quinta de Bonjóia.
Resultante de uma parceria entre a Câmara do Porto, a Fundação Manuel António da Mota, o Grupo de Ação Social do Porto (G.A.S. Porto) e a Associação Just a Change, foi criado o projeto Porto Amigo que para além de permitir melhorar as condições de habitabilidade dos seus destinatários, permite ainda que estes permaneçam no seu meio social, reforçando o sentimento de pertença ao território onde vivem, combatendo o sentimento de isolamento e solidão. Podem aderir ao programa Porto Amigo pessoas residentes no concelho do Porto, em habitação não municipal, que se encontrem em situação de comprovada carência económica ou que integrem no seu agregado familiar cidadão com grau de incapacidade igual ou superior a 60%.
Qual tem sido a resposta quer das empresas, quer dos participantes no projeto? Onde estão os maiores desafios?
O projeto (D) de Eficiência é um verdadeiro desafio para os candidatos com deficiência e/ou incapacidade, pois obriga-os a sair da sua zona de conforto, a desafiarem-se e a desconstruírem ideias pré-concebidas sobre o mercado de trabalho. Acima de tudo, este projeto apoia-os na identificação e valorização das suas competências e a melhor compreenderem como se podem apresentar aos empregadores, valorizando aquilo que podem aportar às empresas ou organizações.
Do ponto de vista das empresas é inegável que a introdução da Lei n.º 4/2019, de 10 de janeiro, que veio estabelecer o sistema de quotas de emprego para pessoas com deficiência, com um grau de incapacidade igual ou superior a 60%, visando a sua contratação por entidades empregadoras do setor privado e do sector público, veio estimular o interesse das empresas pela contratação e integração de pessoas com deficiência e/ou incapacidade. Independentemente deste contexto legal, é de destacar o interesse que o projeto (D) de Eficiência suscitou junto das empresas. Se na primeira edição chegamos a 10 empresas, na segunda edição foram mais de 50 as empresas que se quiseram associar a este projeto. Algumas das empresas participantes na segunda edição, fizeram parte da primeira edição e são exemplos do sucesso e impacto do projeto, pois recrutaram alguns candidatos da primeira edição.
Na segunda edição do projeto, o principal desafio colocado à organização foi a adaptação do projeto ao formato digital, transitando o programa de capacitação em competências de empregabilidade e o Dia D de Eficiência para um formato que poderia não ser tão apelativo para os participantes e para as empresas.
Outros desafios com que nos deparamos atualmente têm que ver com o emparelhamento entre o perfil profissional dos candidatos com deficiência e/ou incapacidade e as necessidades de recrutamento das empresas, bem como as dificuldades de acessibilidade reportadas por alguns candidatos (por exemplo, a deficitária rede de transportes para chegar ao potencial local de trabalho).
Como é que decorre o processo de capacitação dos participantes no projeto?
Na segunda edição do projeto (D) de Eficiência, o programa de capacitação “D de Direitos e Deveres” decorreu de 7 a 19 de abril de 2021, através de plataformas online de videoconferência.
Ao longo de 12 sessões e de forma intensiva, os participantes do projeto (D) de Eficiência tiveram a oportunidade de:
Este programa de capacitação visa, não só preparar os candidatos para o momento de contacto com as empresas que participam no Dia D de Eficiência, mas para o seu futuro processo de procura de emprego
- (re)definir os seus objetivos profissionais;
- trabalhar na forma como poderão apresentar a sua proposta de valor para o mercado de trabalho;
- reconstruir as suas ferramentas de procura de emprego (p.e., CV´s e perfil no Linkedin);
- aperfeiçoar a sua imagem e apresentação profissional e obter uma fotografia profissional;
- melhorar a forma como gerem as expectativas, o tempo e o stress em situações de procura de emprego e noutros contextos profissionais;
- treinar o seu comportamento em situação de entrevista de emprego, através de exercícios de simulação e role-play;
- tomar conhecimento sobre o processo de contratação na função pública;
- partilhar experiências com candidatos participantes na primeira edição do projeto e que através do mesmo alcançaram a sua integração profissional.
Este programa de capacitação visa, não só preparar os candidatos para o momento de contacto com as empresas que participam no Dia D de Eficiência, mas para o seu futuro processo de procura de emprego, para além deste projeto.
Que resultados já é possível partilhar? Quais as melhores lições já aprendidas com o Dia D da Eficiência?
Neste momento poderemos partilhar os resultados de primeira edição que decorreu em 2019, uma vez que a avaliação da segunda edição de 2020 / 2021 ainda está em curso.
Na totalidade das iniciativas realizadas em 2019 estiveram presentes 294 pessoas (profissionais com deficiência e incapacidade, recrutadores e representantes institucionais).
No Dia (D) de Eficiência estiverem presentes 9 empresas: Adecco, Faurecia, Grupo Ibersol, Grupo Pinto Cruz, Grupo Salvador Caetano, Grupo Trivalor, Mindera, Randstad e Sonae Capital.
Mudar mentalidades e integrar pessoas com potencial no grupo, independentemente do seu grau de deficiência
As empresas envolvidas no projeto (D) de Eficiência participaram com o objetivo de:
- Valorizar e integrar de pessoas com deficiência nos quadros da empresa;
- Mudar mentalidades e integrar pessoas com potencial no grupo, independentemente do seu grau de deficiência;
- Querer ajudar a eliminar estereótipos e ideias preconcebidas erróneas relativamente às pessoas com deficiência;
- Acreditar que estas pessoas se podem enquadrar tão bem ou melhor que qualquer outra na empresa;
- Promover a diversidade no recrutamento;
- Estimular a responsabilidade social;
- Promover a integração.
Principais resultados:
100% dos empregadores indicaram que gostariam de participar em futuras iniciativas.
54% dos candidatos participantes no projeto foram contactados para uma segunda entrevista ou apresentação de proposta de emprego (31% no dia seguinte à iniciativa).
54% dos candidatos participantes integraram-se profissionalmente; dos quais 23% enquanto trabalhadores por conta de outrem (destes, 67% em contratos de trabalho e 33% em contrato de estágio).
85% dos candidatos com deficiência e/ou incapacidade consideram que a participação no projeto (D) de Eficiência os tornou mais conscientes dos seus interesses profissionais.
85% dos candidatos com deficiência e/ou incapacidade consideram-se mais preparados(as) para encontrar (novas) oportunidades profissionais.
77% dos candidatos com deficiência e/ou incapacidade consideram que o projeto (D) de Eficiência os ajudou a potenciar o seu desenvolvimento profissional.
100% dos candidatos com deficiência e/ou incapacidade consideram que o projeto (D) de Eficiência foi importante no processo de (re)integração no mercado de trabalho.
A segunda edição do projeto (D) de Eficiência terminou no passado dia 21 de abril e contou com a inscrição de 50 candidatos, dos quais foram selecionados 17 para a participação nas ações de capacitação e no momento final que visa o encontro entre empresas e candidatos a emprego. Do lado das empresas, participaram 19, que face às suas necessidades de recrutamento foram emparelhadas com ao 17 candidatos a emprego, em função dos seus perfis. As empresas participantes foram a Agap1it, Argo Talent, CESPU, CRO /Trivalor SGPS, Daufood, EDP, El Corte Inglès, Farfetch, Grupo Ibersol, Infineon Technologies, JD Sports, KCS IT, Kelly Services, K-Log Logística, Grupo Pinto&Cruz, Grupo Salvador Caetano, Segnor Medicação de Seguros, Teleperformance Portugal e Worten.
A avaliação de impacto da segunda edição decorrerá daqui a 6 meses e permitir-nos-á avaliar o impacto que o projeto teve na vida profissional dos candidatos participantes.
Lições aprendidas com o (D) de Eficiência:
- Apesar da imposição legal, importa continuar a informar os empregadores sobre os apoios existentes à contratação de pessoas com deficiência e/ou incapacidade e sobre os incentivos existentes à adaptação do posto de trabalho, pois ainda há algum desconhecimento sobre estas medidas;
- Muitos dos candidatos com deficiência e/ou incapacidade sentiam-se desencorajados em relação ao processo de procura de emprego, pelo que o programa de capacitação e a apresentação de casos de sucesso é fundamental para a sua motivação e esperança no futuro;
- À medida que o projeto foi avançando, em cada sessão, conferência ou seminário realizado, verificamos que o projeto tem a capacidade de sensibilizar os empregadores e a sociedade em geral para a importância de olhar para as pessoas com deficiência e/ou incapacidade com um olhar de normalização, respeitando a diferença de cada um.
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