A saúde mental e burnout: qual a responsabilidade das organizações?

A saúde mental e burnout: qual a responsabilidade das organizações?

Saúde mental e burnout: qual a responsabilidade das organizações?

90% dos colaboradores das organizações já viveram problemas de saúde mental, seja a nível pessoal ou através de pessoas que lhe são próximas. Os dados constam do estudo ‘It’s not 1 in 4: It’s all of us’, um documento que desconstrói a ideia de que os problemas de saúde mental tocam apenas uma minoria, revelando que este é um desafio de todos os colaboradores e, sobretudo, de todas as organizações.

Desafiando as organizações a olhar de forma diferente para a forma como pensam e apoiam os seus colaboradores no seu bem-estar mental, o estudo mostra que é possível que as empresas ajudem as suas equipas a estar no seu melhor não só no seu local de trabalho, mas também na vida.

1 em cada 4

‘1 em cada 4’ é o número mais citado pelos media para falar da incidência de problemas de saúde mental. O número remonta a 2007, de um estudo realizado no Reino Unido que revelava que 23% dos adultos de Inglaterra possuía um problema de saúde metal (tratado ou não tratado). Contudo, o número deixa a impressão de que os problemas de saúde mental dizem respeito apenas a uma minoria, quando na verdade dizem respeito a todos.

O estudo agora realizado pela Accenture mostra, por outro lado, que ainda há muito por fazer para mostrar que os problemas de saúde mental tocam a todos, de forma direta ou indireta.

60% dos inquiridos pela empresa afirmam já ter experienciando algum tipo de problema de saúde mental, com cada um destes a reportar já ter experienciado três ou mais sinais que revelam uma saúde mental em declínio. 85% dos inquiridos revela alguém que lhes é próximo já passou ou estar a passar por problemas de saúde mental.

Millennials mais afetados por problemas de saúde mental

No global, 9 em cada dez inquiridos indicam já ter sido ‘tocados’ por problemas de saúde mental de alguma forma, uma percentagem que sobe para os 93% quando os inquiridos são os Millennials.

Para 3 em cada 4, os problemas de saúde mental – dos próprios ou de alguém que lhes é próximo – afetaram a sua capacidade de disfrutar da vida. “Estas descobertas devem obrigar os empregadores a ver a saúde mental de forma diferente. Devem olhar para ela como algo que nos toca a todos, no espectro de bom para mau, e que difere de pessoa para pessoa e que requer intervenções e iniciativas que sejam relevantes: desde a manutenção de uma boa saúde mental até políticas e práticas que apoiem aqueles com condições mais sérias. A saúde mental não é um problema de uma minoria”, diz o estudo.

Um dado curioso revelado pelo estudo é que os Millennials aparentam ser mais afetados por problemas de saúde mental do que as gerações anteriores, seja através de si próprios seja através de alguém que lhes é próximo. Assim, esta geração tem três vezes mais probabilidade de afirmar que a sua saúde mental é mais importante que a sua saúde física do que as restantes gerações.

Para além disso, esta geração tem também maiores probabilidades de lidar de forma ativa com o seu bem-estar mental do que as anteriores gerações, seja através de exercício, yoga ou práticas como mindfulness. Importa, no entanto, referir que apesar de estarem mais expostos a estes problemas, esta geração sente-se menos confortável a falar do tema, com menos de metade a referir que é fácil falar destes temas e muitos poucos a considerarem que este é um problema que pode tocar toda a gente.

O estigma começa a ‘desfazer-se’

O estudo da Accenture mostra também que apesar dos consideráveis progressos no debate destes temas, para muitas pessoas ainda é difícil falar da sua saúde mental, especialmente no trabalho. Esconder este tipo de problemas faz com que se adensem e falar sobre estes, frequentemente, traz alívio, reduz o stress e ajuda as pessoas a encontrar a ajuda de que necessitam.

“Metade dos inquiridos sente que falar das suas preocupações acerca da sua saúde mental pode ter impacto nas suas carreiras ou impedir que sejam promovidos. Para além disso, acreditam que partilhar informação sobre os seus desafios de saúde mental no local de trabalho pode fazer com que sejam vistos como fracos”, indica o estudo.

Uma cultura de apoio ‘muda’ o jogo para os colaboradores e traz uma mudança positiva para as organizações

Uma das informações mais importantes do estudo é que apenas 4 em cada 10 organizações têm atualmente políticas e sistemas de apoio à saúde mental dos seus colaboradores. As organizações com culturas de apoio à saúde mental das suas equipas tendem a ser mais abertas e ajudam os seus colaboradores a procurar ajuda. Para além disso, segundo o estudo, os colaboradores de organizações que prestam este tipo de apoio tendem a estar mais motivados e a ser mais leais.

COVID-19 poderá impulsionar aumento de casos de burnout

Importa ainda lembrar que esta é uma altura em que as organizações devem estar particularmente atentas à saúde mental das suas equipas. Um estudo recentemente publicado pela empresa britânica Benenden Health indica que há muitos colaboradores que sentem já os efeitos da pandemia na sua saúde mental.

Segundo os dados divulgados pela empresa, só no Reino Unido, cerca de 23 milhões de pessoas poderão estar a sofrer problemas de saúde mental devido aos últimos meses de confinamento. Além disso, de acordo com o estudo, uma em cada dez pessoas garante que é a primeira fez que enfrenta problemas de saúde mental, o que mostra que o COVID-19 poderá ter consequências negativas na saúde mental de todos a longo prazo.

De acordo com a Benenden Health, as pessoas inquiridas no âmbito deste estudo indicam ainda sentir que as organizações para as quais trabalham não estão a fazer o suficiente para as apoiar nesta fase, com mais de um terço dos entrevistados a referir que ter mais apoio poderia ajudar.

Como? 22,4% gostaria de saber que o seu posto de trabalho está seguro, 8,19% gostaria de receber apoio mental das suas organizações e 7,8% gostaria que a empresa para a qual trabalha compreende a pressão de ter de trabalhar ao mesmo tempo que se toma conta dos filhos.

E apesar de não serem surpreendentes os efeitos do COVID-19 na saúde mental das pessoas, continua a surpreender o facto de muitas organizações não estarem atentas. O burnout – síndrome do esgotamento profissional – está, desde 2019, incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema associado ao emprego e desemprego.

Como ajudar?

Mas afinal, o que podem fazer os líderes das organizações para construir uma cultura em que os colaboradores se sentem apoiados e onde podem falar abertamente da sua saúde mental.

Tornar a saúde mental um problema de todos

As empresas devem reestruturar a sua abordagem ao bem-estar e à saúde mental. “Muitas organizações são reativas (focam-se em detetar os sinais de uma saúde mental em declínio e em tratar aqueles que estão a passar por este tipo de desafios). Ser proativas – focando-se na manutenção de uma boa saúde mental e permitindo que os colaboradores estejam no seu melhor – é mais eficaz a longo prazo”, diz a Accenture.

Falar

É importante mostrar aos colaboradores que existe preocupação com estes temas e que existe abertura para falar deles. Um passo importante é colocar os líderes e gestores de equipas a falar sobre o tema. De acordo com o estudo da Accenture, apenas 1 em cada 10 já ouviu os seus líderes a falar de como estes problemas os afetaram, o que revela um preconceito à volta do tema, especialmente quando sabemos que os problemas de saúde mental afetam uma grande maioria.

Como abordar o tema

Se não sabe como começar ‘a conversa’ inspire-se no projeto This is Me, iniciativa lançada em 2016 com o objetivo de impulsionar as organizações a falarem da saúde mental ao encorajar as suas equipas e líderes a partilharem as suas experiências.

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