Venceu em 1997 o III Concurso Internacional da Fundação Oriente para Jovens Chefes de Orquestra, foi Presidente da Metropolitana/Associação Música, Educação e Cultura, instituição que gere a Orquestra Metropolitana de Lisboa, e dirigiu orquestras como a Royal Philharmonic Orchestra, a Berliner Symphoniker e a Orquestra Sinfónica de Nuremberga. Em novembro, vai estar no Porto RH Meeting para falar de Liderança. Falamos de Cesário Costa, o maestro que defende que para liderar é preciso “saber ouvir”.
Qual é a parte mais difícil do seu trabalho e o que é que o apaixona mais?
O que mais me apaixona no meu trabalho é fazer música com outras pessoas. A parte mais difícil é levar essas mesmas pessoas a acreditarem e realizarem a interpretação/visão da obra que lhes estou a propor.
Como se comunica com tantas pessoas em simultâneo e se garante que todos estão coordenados para que nada falhe?
Um maestro tem a particularidade de comunicar, em primeiro lugar, com o gesto: uma ‘linguagem’ universal que é compreendida facilmente pelos músicos em qualquer parte do mundo.
Nunca se consegue garantir que nada vai falhar, mas pode-se trabalhar/ensaiar para que se possa falhar o menos possível.
Como adapta a sua estratégia a cada orquestra, a cada músico, etc?
Cada orquestra, cada músico é diferente. Existe apenas uma certeza no trabalho de um maestro: sabe que vai estar em palco com os músicos com quem esteve a ensaiar, diante do público para realizar um concerto.
Com esse objetivo sempre presente, tem que obrigatoriamente encontrar um entendimento com as pessoas com quem está a trabalhar, na procura de um objetivo/uma interpretação única. Por isso, a estratégia a ser utilizada deve sempre adequar-se às pessoas com quem se está a trabalhar com o objetivo de as motivar para o trabalho que se está a desenvolver.
Como se leva uma orquestra a acreditar na sua visão/leitura de uma obra e, consequentemente, a dar-lhe vida?
Em primeiro lugar, o maestro deve mostrar aos músicos com quem está a trabalhar que conhece muito bem a obra que vai ensaiar, que fez o estudo prévio da partitura e que sabe qual é a interpretação/estratégia que pretende seguir. Depois disso, deve ser capaz de levar e ajudar os seus músicos/a sua equipa a ultrapassar as dificuldades que possam para atingir o melhor resultado possível. Por último, deve ter sempre presente que só com um espírito de equipa é que conseguirá realizar aquilo que imaginou.
Na sua opinião, o que é que um líder de uma empresa pode aprender com um maestro?
Saber ouvir, confiar nas pessoas com quem trabalha…O maestro é um músico sem instrumento: o seu ‘instrumento’ são as pessoas, pois é, em conjunto com elas que vai conseguir atingir o objetivo.
Como se inspiram as pessoas?
Na minha opinião, não existe uma forma única para inspirar as pessoas. Julgo que deverá ser a combinação de muitos dos aspetos que referi anteriormente. Todas as pessoas são diferentes e um maestro tem que encontrar a forma mais eficaz para conseguir chegar aos outros, sobretudo num contexto em que as orquestras são formadas por músicos de diferentes nacionalidades, com mentalidades muito distintas.
A música é uma arte que se reinventa constantemente, pois a mesma obra pode ser interpretada de formas muito diferentes. Por essa razão, a minha atitude perante os outros é de tentar conhecer as diferentes leituras que fazem da mesma obra e integrá-las no meu trabalho.