Os jogos, a concentração e o sono podem potenciar a nossa capacidade de aprender. Quem o diz é Stanislas Dehaene, professor de Psicologia Cognitiva no Collège de France, que acaba de publicar a obra ‘Aprenda! Os talentos do cérebro, o desafio das máquinas’. Em entrevista à publicação Le Temps, o especialista diz que o cérebro humano está cheio de segredos e que existem várias ‘receitas’ para uma aprendizagem bem-sucedida que podem ser retiradas das Neurociências, da Psicologia Cognitiva e das Ciências da Educação.
“Infelizmente, ninguém nos ensinou as regras que fazem o nosso cérebro memorizar e entender – ou esquecer e errar. Isso é lamentável porque as intervenções educacionais que funcionam foram identificadas pelo Education Endowment Fund (EEF). Veredicto: saber como aprender é um dos fatores mais importantes do sucesso académico. Todas as crianças começam na vida com uma arquitetura cerebral semelhante. As suas competências inatas de linguagem, aritmética, lógica ou probabilidade revelam as suas intuições precoces e abstratas sobre as quais o ensino deve basear-se”, explica Stanislas Dehaene.
O professor de Psicologia Cognitiva defende ainda que “os bebés são cientistas iniciantes”. “Desde os primeiros meses de vida, os bebés formulam – sem o seu conhecimento – suposições sobre as observações que fazem do seu ambiente. Por isso, reveem-se à luz das suas experiências, através de um rigoroso jogo de deduções, graças ao qual podem aprender linguagem em tempo recorde.”
O especialista explica ainda que a aprendizagem bem-sucedida baseia-se em quatro pilares: a atenção, uma vez que “nenhuma informação será memorizada se não tiver sido ampliada pela atenção e pela consciencialização”; o engagement ativo, já que “uma criança só aprendem bem quando gera constantemente novas hipóteses”; o feedback de erro, porque “o erro é uma condição para a aprendizagem”; e a consolidação, porque não é suficiente aprender uma vez.
“O erro é uma condição para a aprendizagem. Eu não acho que as notas sejam um bom sistema de avaliação: elas não fornecem informações precisas sobre em que é que o aluno estava errado. Eles não têm realmente nenhum interesse educacional, mas geram stress. Sabemos que as emoções positivas alimentam a curiosidade e o entusiasmo da criança, mas que as emoções negativas bloqueiam a aprendizagem: elas ‘congelam’ as redes neuronais. Estou, portanto, a argumentar que é preciso descomplicar o erro, especialmente na aprendizagem da matemática, muitas vezes uma fonte de stress”, defende.