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Entrevista – Um chefe tem de reconhecer os seus erros

Reconhecer os seus erros

Texto: Carmen Silva

Como se consegue motivar uma equipa?

O principal ponto é perceber qual é a motivação profunda e verdadeira de cada colaborador e procurar ao máximo que esta esteja presente durante o seu dia-a-dia.

Quais os sinais que podem indicar que um Centro de Atendimento Médico Veterinário (CAMV) é gerido por um mau chefe?

Há muitos sinais! Podemos encontrar chefes com egos excessivos, chefes que não conseguem ouvir ou ainda que não delegam e que ignoram as pessoas, porque estão preocupados apenas com os rendimentos numéricos. Mas há ainda o tipo de chefe que não dá um feedback efetivo às pessoas, não permitindo que evoluam, pois não felicitam ou não corrigem a tempo os erros. Por fim podemos ainda apontar o tipo de chefe que não inspira ou que não cumpre a sua palavra em acordos.

Como evitar, então, ser um mau chefe?

Os chefes têm de ter a capacidade de reconhecer os seus erros, ou seja, ganhar a consciência de que estão a errar, dado que não se consegue corrigir algo do qual não se tem consciência. Em algumas situações, a melhor opção é contratar os serviços de um coach e não digo isto por ser coach, mas porque a verdade é que o acompanhamento da situação por um profissional desta natureza pode corrigir em muito pouco tempo muitos destes problemas. No entanto, a pessoa pode ainda frequentar cursos. E assim, os indivíduos acabam por se aperceber que aqueles comportamentos que eles julgavam facilitadores do êxito estão, no fundo, a impedi-lo. São comportamentos que coíbem as equipas de atingir um nível superior de trabalho.

Os chefes têm de ter a capacidade de reconhecer os seus erros, ou seja, ganhar a consciência de que estão a errar, dado que não se consegue corrigir algo do qual não se tem consciência.

O médico veterinário está preparado para ser gestor de um CAMV?

Isso depende de caso para caso. De acordo com a minha opinião, as faculdades que conheço em países como Portugal, Espanha Turquia, Rússia e Estados Unidos da América não preparam suficientemente os seus alunos para gerir um CAMV. Contudo, pode-se procurar formação nessa área, posteriormente. Mas é essencial que se aprenda a delegar.

Em relação aos perfis dos 5 C’s (ver caixa), quais destes deve possuir um gestor de um CAMV?

Um bom líder, entre outras características, deve ter uma boa capacidade adaptação e, por isso, um bom chefe deve ter a capacidade de se adaptar, e deste modo, desempenhar o papel do perfil adequado ao momento. Mas, no geral, o ideal seria ter um comandante com dotes de convencedor, que saiba cuidar bem do seu pessoal, que se preocupe em fazer tudo em detalhe e que consiga inovar. No fundo, um bom chefe ou gestor deve conseguir conciliar todos os perfis.

E em relação à equipa, qual é o perfil ideal?

Uma equipa tem de conter todos os perfis, ou seja, não pode estar representado um e outro ausente. Se esta situação se verificar, deve ser corrigida. Neste sentido deve-se perceber qual o perfil em falta e depois ou terá de se ir buscar ‘fora’ ou então deve-se falar com a equipa, de maneira a perceber quem poderá assumir esse perfil.

Uma equipa tem de conter todos os perfis, ou seja, não pode estar representado um e outro ausente.

Como se pode identificar na prática estes perfis?

É uma atividade muito divertida de fazer com a equipa. Faz-se um registo de como todos na equipa se veem e depois vai a votos. Faz-se um ranking de um a cinco, sendo que um é o mínimo e cinco o máximo, e todos pontuam. Ao fim de meia hora conseguimos perceber o posicionamento da equipa e sabemos como cada um vê cada um.

E em relação ao conflitos, como evitá-los?

Os conflitos não se evitam, previnem-se. No entanto, se o conflito acontecer, tem de ser encarado de forma produtiva.

Como preveni-los?

Dialogando. Falando dos assuntos e abordando ‘o elefante na sala’. Deve-se ter a preocupação de perguntar o que se passa, o que o individuo acha que lhe faz falta, o que acha que é necessário para superar a questão, etc.

OS 5 C’s

Existem várias tipologias de perfis, mas Miguel Diaz utiliza a dos cinco C’s: comandante, convincente, criador, calculador e cuidador. O médico veterinário pode recorrer a este conjunto de perfil, de acordo com o coach, para descobrir os pontos fortes e fracos da sua equipa, assim como para melhorar as relações interpessoais. Isto evita o ‘desgaste’ da equipa e, por outro lado, ajuda a melhorar a harmonia e a produtividade.

Comandante

São pessoas de ação, com confiança em si mesmo, muito motivadas e orientadas por objetivos. Costumam ver oportunidades onde os outros veem problemas. Devido a estas características deve evitar-se dar-lhes ordens, pressioná-las e falar-lhes em sentimentos. De modo a promover a aproximação a um ‘comandante’, Miguel Diaz aconselha a fazer perguntas breves e diretas e a ter a noção que lhes interessa os resultados e não os detalhes.

Convincente

É um individuo tipicamente entusiasta, positivo e portador de um magnetismo especial. São grandes oradores em público e grandes motivadores. Deve evitar-se deixá-los a trabalhar sozinhos, mas também juntar vários convincentes pode ser perigoso. Deve-se ter a consciência de que primeiro tratam deles mesmo e só depois se preocupam com os outros.

Cuidador

É uma pessoa que sabe escutar muito bem e que fala e pensa sempre em nome da equipa. São indivíduos muito sociáveis, que necessitam de cooperar e não de competir. No entanto deve evitar-se as mudanças, especialmente de pessoas, e a confrontação. É importante falar ao cuidador de pessoas e de processos e de como ‘casar’ ambos. Deve-se, igualmente, enfatizar a harmonia.

Calculador

São pessoas organizadas e corretas, assim como persistentes e perfeccionistas. Deve evitar-se dar-lhes tarefas criativas e inovadoras e também não lidam bem com a competição. A estes indivíduos é importante que se dê instruções claras e precisas.

Criador

Adoram a inovação e fazer coisas novas. São sonhadores. Contudo deve evitar-se pô-los a trabalhar em grupo e ser específico ao ponto de limitar a sua liberdade criativa. Deve-se, especialmente, falar-lhes de ideias e não de pessoas.

Erros mais comuns de um chefe

Segundo Miguel Diaz, entre os erros mais comuns de um chefe está em primeiro lugar o ego excessivo. Neste sentido podem ‘sofrer’ da falsa ilusão de êxito e ter a perceção de que têm todos os ases na mão. Não obstante, devem começar a reconhecer o talento dos outros. Há ainda o tipo de chefe que não saber escutar. Neste caso é típico encontrar a pessoa que não olha nos olhos e que, quando fala, prefere olhar para o telemóvel ou para o relógio. Também é frequente interromper o outro durante a conversação. A recompensa destas atitudes é o efeito boomerang, ou seja, o indivíduo não aprende nada e é notória a rotação de pessoal na clínica, especialmente dos melhores.

Miguel Diaz aponta ainda o chefe que não dá o exemplo, quando os valores não são simples palavras, uma vez que se vive os valores através de ações; e o micromanagement. Nestas situações, os chefes centram-se continuamente nas falhas, fazendo comentários sobre o pobre desempenho e parecendo sempre estar enfadados e stressados. O impacto deste tipo de liderança nas pessoas é a insegurança e a desmotivação e, em resultado, os melhores colaboradores ‘abandonam o barco’.

Quanto ao tipo de chefe que não sabe dar feedback, o coach explica que utiliza frases típicas como ‘deves melhorar o teu trabalho’ ou ‘se não mudas, és despedido’. Não obstante, não se consegue melhorar algo que não se sabe que se está a fazer mal e, por outro lado, não se consegue repetir algo que se faz bem quando não se sabe que se está a fazer bem.

Há ainda o chefe que não se consegue focar. Os sinais deste tipo de liderança são muitos projetos, mas poucos acabados, pouca especialização, etc.. Em consequência, não há obtenção de resultados e há desmotivação, ansiedade e frustração.

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