“É necessário ter interesse genuíno pela equipa e ouvi-la”

“É necessário ter interesse genuíno pela equipa e ouvi-la”

“É necessário ter interesse genuíno pela equipa e ouvi-la”
A Sonae e os CTT juntaram-se para criar uma plataforma de e-commerce. A parceria deu origem ao Dott, empresa que arrancou este ano com 20 pessoas e com a missão de se tornar no “maior shopping online de Portugal”. Uma ambição só possível com uma equipa com “espírito positivo” e “focada no propósito”. Sílvia Duarte, Chief Happiness Officer do Dott, vai estar no Porto RH Meeting, mas em entrevista ao RH Bizz ‘levanta o véu’ e conta como se cria uma comunidade com confiança no futuro.

Qual é o seu papel enquanto Chief Happiness Officer?

Garantir que há felicidade no trabalho e que esta experiência é focada no propósito do Dott, ou seja, dar a todas as empresas a oportunidade de alcançar mais através do e-commerce.

É esse espírito que queremos que exista: que todos no Dott alcancem ainda mais, e para isso acreditamos na força de comunidade. Quando existe um conjunto de pessoas com os mesmos valores e sentimento de propósito, emergem grandes níveis de confiança entre si. Quando é criado o ambiente certo de confiança, os níveis de colaboração, de autonomia e de inovação são superiores.  Para isso, é necessário certificarmo-nos que as nossas pessoas são valorizadas enquanto profissionais e enquanto indivíduos, e as emoções não são deixadas à porta. É necessário criar e desenvolver experiências que refletem a satisfação e a realização da nossa equipa, processos diferenciadores desde o recrutamento, o onboarding, o offboarding, o plano de carreira, a formação e desenvolvimento, a gestão de performance e reconhecimento. É necessário ter interesse genuíno pela equipa e ouvi-la. Perceber não só o que dizem, mas como se comportam e identificar oportunidades de desenvolvimento que beneficiem a pessoa e o grupo.

É também essencial promover o trabalho em equipa, pois quando fazemos as coisas em conjunto fortalecemos os laços da comunidade e do nosso sentido de propósito. Quando o Dott se foca nas suas pessoas, elas tornam-se mais confiantes, mais ousadas, mais criativas e pensam melhor como podem beneficiar o seu cliente. E finalmente, firmar estratégias de desenvolvimento que levem cada um a sentir mais confiança no seu trabalho, para que desafios do seu domínio sejam resolvidos de uma forma autónoma, beneficiando a equipa e o desenvolvimento de cada um.

Quais os principais desafios na gestão de uma equipa numa empresa recém-criada?

Criar uma empresa de raiz tem desafios, mas também benefícios. Existe um espírito positivo e uma vontade de fazer bem desde o início e isso é inevitavelmente um grande benefício. A primeira fase de recrutamento do Dott passou por identificar pessoas que acreditam que podem contribuir para que as empresas portuguesas, desde as startups, às pequenas, médias e até às grandes possam alcançar mais através das vendas do meio digital. Empresas essas, que na sua essência, são pessoas que têm um projeto e que querem fazê-lo crescer, tal como nós. Este é o propósito que nos guia e para onde caminhamos em conjunto.

Quem se junta à Dott acredita nesta visão, mas também sabe que teremos foco nas pessoas que trabalham neste processo, e que consequentemente se podem desenvolver e tornar ainda melhores, crescer num local que aposta numa estratégia para que todos sintam que pertencem a um projeto comum.

A nossa equipa está dividida fisicamente entre duas cidades, Porto e Lisboa, e por isso, as equipas à distância tem um desafio acrescido de manter a constante comunicação, partilha e interação. No entanto, para colmatar este desafio, estamos desde o início a desenvolver e a implementar as melhores práticas para que esta distância seja encarada como uma oportunidade de desenvolvimento.

Na sua experiência, quais os principais fatores influenciadores da felicidade dos colaboradores nas organizações?

Diria que a confiança em toda a equipa, e não só no departamento a que pertencemos, é o fator que faz a diferença. A confiança permite-nos arriscar, permite-nos ser vulneráveis, ser autónomos e acima de tudo sentir que realmente pertencemos a algo. É algo que se constrói com o tempo, não se pode pedir e ter de imediato. Constrói-se nas pequenas coisas, nas interações, nas palavras e nos momentos mais simples. Nas organizações que não têm este foco, em que não é construída essa relação, a pessoa acorda, vai trabalhar, faz apenas o seu trabalho e vai para casa. O envolvimento que existe é frágil e decididamente não contribui para a sua felicidade.

Porque é que o tema da ‘felicidade’ se tornou tão importante nas organizações nos últimos anos? Há uns anos atrás seria raro ouvirmos falar de um Chief Happiness Officer…

Existem inúmeros estudos que indicam uma correlação entre pessoas que estão felizes no seu trabalho e a eficiência da empresa. Cada vez mais as organizações compreendem que as pessoas dão o seu melhor quando são apreciadas, quando são envolvidas, quando confiam nelas. Escolher alguém para uma posição que seja competente em determinadas tarefas e que seja também capaz de garantir a felicidade das suas pessoas, é um passo extra na posição tradicional de Recursos Humanos. O objetivo não é só oferecer boas condições, mas considerar que o local de trabalho é uma fonte de satisfação pessoal. No Dott queremos que as pessoas acordem todos os dias e saibam o porquê de participar neste projeto e com isso contribuir para a sua satisfação pessoal.

Na sua opinião, quais são hoje os maiores desafios na gestão de Recursos Humanos?

Cada vez mais o futuro traz-nos coisas surpreendentes, como a inteligência artificial, a automatização de processos ou os robots. O grande desafio das pessoas é compreender e prepararem-se para competir neste futuro.

Acredito que o futuro das pessoas passa por apostar mais nas competências humanas, como por exemplo a Mentalidade de Crescimento/Growth Mindset, que explica que para sermos bons numa competência temos que treinar para isso. O nosso cérebro é equiparado a um músculo e deve ser treinado como tal. E o treino implica fazer, errar, repetir e refletir.

Outro exemplo, a Mentalidade de Ecossistema/Ecosystem Mindset, em que quanto mais partilharmos, seja com a nossa própria equipa, seja com outros players de mercado ficamos a ganhar, pois soluções mais ousadas emergem. Este é um grande desafio na realidade portuguesa, pois podemos testemunhar muitas vezes o “proteger a minha quinta”, o não vou contar a minha ideia ao outro porque vai “roubar-ma”, o não vou expressar o que penso porque pode colocar em risco a minha posição.

Outra competência a desenvolver é a Mentalidade de Futuro/Future Mindset, que se traduz em imaginar e visualizar o futuro, pensar e ter o objetivo de atingir algo considerado impensável até então. Para isso também deve saber criar objetivos e metas para o conseguir. Acima de tudo saber fazer as perguntas certas para construir esse futuro. E aqui reside outro grande desafio: muitas vezes as pessoas não fazem perguntas por medo de serem vistas como incompetentes, como uma pessoa difícil ou porque foram educadas a não importunar.

Como se fazem as perguntas certas? Fazendo centenas de perguntas erradas. E é necessário construir um ambiente em que isso seja possível, que possa ser visto como natural e como uma característica positiva. Acredito que desenvolver o lado mais humano pode levar a resultados incríveis.

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