O título deste artigo é, no mínimo, improvável. Mas não, não existe plástico no cérebro, não venho falar dos aspetos técnicos do baseball e sim, sou um dentista que a certo momento se interessou por estudar as utilizações práticas da neurociência no quotidiano profissional.
Texto: Vítor Brás, médico dentista e investigador de neuromarketing
A esta altura muitos dos seus colaboradores regressam de férias e a equipa no geral está de baterias recarregadas para enfrentar mais um ano. Acabada a silly season, muitos são os artigos sobre como combater aquela depressão(zinha) pós-férias ou recomeçar o ciclo normal de trabalho. Foi por isso que optei por escrever sobre algo diferente: o hábito.
O cérebro humano, tão complexo e perfeito, está programado para a sobrevivência e é um excelente gestor de recursos chegando a ser mesmo preguiçoso porque quer gastar o mínimo para fazer o máximo. Mal seria se necessitássemos de pensar muito para atar os ténis, pentear, etc… Por ser uma autêntica máquina de otimização, o cérebro precisa de estar sempre em adaptação e modelar-se quase como se de plasticina se tratasse: é plástico! Os neurónios alteram-se funcional e anatomicamente mediante variáveis ambientais, sociais e pessoais.
Uma cientista irlandesa constatou bem este fenómeno quando estudou o cérebro de candidatos a taxistas em Londres. Eleanor Maguire, do University College of London, observou o cérebro destes indivíduos que, para obter a sua licença de taxista, percorreram as ruas da capital de Sua Majestade durante três anos numa moto. No final todos apresentavam alterações estruturais numa região chamada Hipocampo (responsável por processos de memória). O que quer isto dizer? Que de acordo com o que vivemos, o nosso cérebro diferencia-se, o do Cristiano Ronaldo é, então, morfologicamente diferente do de Kasparov. E quem não gostaria de ter na sua empresa vários Cristianos e Kasparovs?
Não é algo assim tão inatingível e é aqui que entra o baseball. Nos anos 80 uma equipa de meio de tabela contratou o até então relativamente desconhecido Tony Dungy como treinador. Dungy deparou-se com um plantel de jogadores de qualidade mediana e até baixa comparativamente a outras equipas adversárias. Com este défice de talento e de capacidade física treinou algo que os outros treinadores descuravam: o hábito! Enquanto todos os treinadores se focavam nos aspetos técnicos e físicos, Tony Dungy implementou hábitos e treinou táticas até à exaustão, até ao ponto de os seus jogadores não terem de pensar muito e agirem como que por instinto (lembra-se de eu dizer que o cérebro é preguiçoso?). Nas palavras do próprio: os campeões não fazem coisas extraordinárias, mas fazem coisas banais sem pensar, demasiado rápido para que a outra equipa consiga reagir. Seguem os hábitos que aprendem. Tony Dungy levou a equipa à final do campeonato e venceu!
Ok, devemos treinar tarefas até à exaustão para virarem hábitos e serem feitos pela equipa quase como instinto…mas como? Adivinhei a questão?
Aconselho para leitura o trabalho de Rock et al. da Universidade de Columbia que estipulou o modelo PHS: priorities, habits, systems. Seguindo este princípio e simplificando a coisa: Rock defende que se comece por informar o staff das prioridades e dos objetivos. Posto isso que se identifiquem os hábitos a adotar e, por fim, que se criem sistemas o mais simples e assimiláveis possível para que a equipa os repita e os torne num hábito.
Agora que tem a sua equipa de volta do sol e da praia, de espírito renovado, porque não aproveitar para implementar sistemas e hábitos e ver nascer na sua equipa uns Cristianos e Kasparovs.