Aprendizagem Frugal: fazer com o que temos e principalmente sem o que não temos!
Não temos a plataforma certa, nem as ferramentas certas, nem as competências certas. Não temos orçamento suficiente, não somos maduros o suficiente, estes são alguns dos desabafos ouvidos com frequência nas nossas organizações.
A estas frases, respondo com uma máxima de Picasso: “Quando não tenho vermelho eu uso azul”.
Esta é uma expressão que simboliza muito bem o que é Frugalidade: aceitar fazer com o que se tem. Ou sobretudo fazer sem o que não se tem!
Mas o que é frugalidade?
Popularizada em França por Navi Radjou, o conceito de inovação frugal deriva do termo indiano Jugaad, que significa “sistema D” ou desenvoltura, ou fazer mais com menos. Trata-se de criar soluções simples e eficazes, com menos.
A frugalidade permite inovar de forma rápida num contexto cada vez mais complexo, onde os recursos são cada vez mais limitados.
A frugalidade assenta em 3 pilares:
- Favorecer os meios de produção baratos e disponíveis
- Focar-se nas necessidades reais dos utilizadores
- Mostrar engenho e bom senso
Portanto, é diferente de má qualidade, desleixo ou de fazer menos por menos!
Aprendizagem Frugal: 3 novos modelos para construir uma learning organization
Num contexto onde as formas tradicionais de aprendizagem e as fontes de financiamento são desafiadas, a frugalidade ajuda-nos a desenvolver novas soluções.
Na ABILWAYS, a frugalidade tornou-se uma forma natural de atuar. Muitas vezes por constrangimentos ou para responder às solicitações do cliente, esta é uma atitude que molda a nossa ação desde o início:
Desafios como por exemplo, treinar 500 pessoas para utilizar o Twitter numa hora, no presencial e em vinte dias!
Há muito que temos feito aprendizagem frugal, de forma natural, quase sem dar por isso.
Com base nos 3 pilares da frugalidade mencionados acima, passo a descrever 6 situações através das quais vivemos a Aprendizagem Frugal, quer nos últimos anos, quer durante este período de crise sanitária.
1. Favorecer os meios de produção baratos e disponíveis
Prefira meios de produção mais baratos
Uma universidade corporativa de uma empresa de mídia acaba de adquirir a sua nova (e cara) plataforma LMS que deve agora ser preenchida com conteúdo. No entanto, a lista de áreas de negócios e tópicos a serem cobertos é enorme e os recursos são limitados.
Além de alguns cursos prontos a ser utilizados, sugerimos que a universidade priorize a curadoria de conteúdo. Como o volume de temas a abordar é imenso, contamos com uma solução de inteligência artificial do mercado para fazer pré-seleções de conteúdo todas as semanas: artigos, dossiês, vídeos, entrevistas, etc.
Resultado: uma seleção de 500 conteúdos oferecidos à Universidade para alimentar a sua plataforma e as suas comunidades empresariais. Um processo que, se ainda houver espaço para melhorias, permite a utilização de orçamentos de forma inteligente de acordo com o tríptico: construir à medida + conteúdo pronto para usar + curadoria.
Privilegiar os meios de produção disponíveis
Como fazer isto quando desejamos formar rapidamente uma grande comunidade sobre como usar uma nova ferramenta, para aprender sobre um novo conceito, sem fazer disparar os custos ou passar pelo e-learning?
Nós respondemos a esta equação alguns anos atrás, imaginando o conceito Genius Bar aplicado à formação. O conceito significa contar com a aprendizagem circular ou entre pares, convidando colaboradores, sejam eles especialistas ou não em determinado assunto / ferramenta, para formar os colegas através de workshops de aculturação e experimentação.
Um formato de micro-learning que permite que muitos participantes aprendam novos temas, experimentem, testem ferramentas em pouco tempo e sejam acompanhados pelos seus pares! Nada mais impactante do que quando a Maria de 45 anos, controladora financeira, explica como ela aprendeu a usar o Snapchat e como uma marca pode usá-lo!
Após mais de 5 anos de experiência e implementação, estamos a testar uma versão 100% remota para nossas próprias equipas. A crise provocada pela pandemia, forçou-nos a integrar novas ferramentas e novos procedimentos muito rapidamente, são os coordenadores de formação que vão treinar as equipas. Muito mais eficaz do que se a equipa responsável pelo Digital tivesse implementado essa formação verticalmente a todas as equipas!
2.Concentre-se nas necessidades reais dos utilizadores
Evite sobrevalorizar a qualidade
No âmbito do vídeo learning, precisamos sistematicamente de adereços? De um estúdio com fundo verde? De uma excelente pós-produção em motion design que exige um vai e vem infinito para mudar uma vírgula?
Não será por vezes necessário voltar à simplicidade, à essência da mensagem que queremos transmitir?
Durante a crise pandémica, abandonámos os nossos hábitos sofisticados de produção de vídeo para lidar com a urgência da situação. Fomos forçados a organizar gravações de vídeo remotas, criar tutoriais para ajudar a trabalhar com novas ferramentas. E responder às necessidades, sem super pós-produção: apenas o essencial, sem excessos, para entregar rapidamente!
E pudemos testá-lo durante os Cafés ABILWAYS que aconteceram semanalmente durante o confinamento: um especialista que simplesmente se filma a partir de casa com sua webcam e com uma pós-produção simples e minimalista, não diminui o impacto da sua mensagem. Pelo contrário!
Evitar exagerar no tempo a investir
Porque pedir aos formandos que mobilizem 2 dias ou até 2 horas quando um tema pode ser abordado em 15 minutos?
Qual é o melhor conteúdo e quanto tempo os colaboradores podem investir em cada tópico no seu percurso de aprendizagem? Por vezes, uma infografia é o suficiente, em outras situações um módulo assíncrono de 15 minutos antes de investir várias horas no formato presencial ou síncrono.
O Learning Funnel©, inspirado no funil de vendas do marketing digital, permite repensar os pontos de contato com os formandos de acordo com sua maturidade.
3.Recorrer ao engenho e bom senso
Mostre engenho
A virtude das situações de crise é que obrigam a olhar para além dos nossos hábitos e levam-nos a imaginar soluções que podem ser postas em prática rapidamente.
Quando no início da crise nos pediram para disponibilizar gratuitamente cursos de formação em plataformas solidárias, percebemos que poderíamos criar cursos a partir dos replays dos webinars que fazíamos quase todos os dias desde o início da crise.
Com montagem e cenários minimalistas, conseguimos criar o primeiro curso dedicado a uma oferta solidária em menos de 2 horas!
Aceitar desaprender ou desfazer-se dos nossos padrões
A questão mais importante a integrar num processo de frugalidade, é desaprender! É aceitar que o que foi verdade pode já não ser. Tão simples.
E assim, libertarmo-nos dos nossos padrões mentais e livrarmo-nos de certos preconceitos que nos prendem a soluções pré-definidas.
Não, o presencial não envolve apenas 10 a 15 pessoas à volta de um especialista.
Não, o digital não é apenas para treinar o ATAWADAC.
Não, nem sempre aprendemos melhor com os melhores.
Não, a aprendizagem digital não tem de ser longa e dispendiosa.
Aprendizagem frugal, uma maneira de recuperar a adaptabilidade
Se a aprendizagem frugal nos permitir recuperar espaço de manobra, passar para “tudo é frugal” não faria sentido e seria mesmo perigoso.
Em alguns casos, levámos a frugalidade ao extremo e eu isso não voltarei a fazer. No âmbito do nosso processo VISÃO 2025, criámos e organizámos 13 learning expeditions para 200 colaboradores em menos de 5 meses e a menos de 40 € por pessoa … Sim, fizemo-lo e fizemo-lo bem tendo em consideração os recursos de que dispúnhamos, mas eu não o recomendo a ninguém!!!
A aprendizagem frugal deve-nos permitir redescobrir
- A capacidade de aproveitar a oportunidade: fazer a escolha certa no momento certo para melhor conciliar projetos e prioridades que acabam sempre por se acumular!
- Uma certa forma de adaptabilidade: ser capaz de reavaliar constantemente a nossa posição face a um contexto mutável e complexo. Sem mencionar que devemos preparar-nos para qualquer reviravolta que possa surgir!
- A simplicidade na nossa atuação: voltar aos pilares dos nossos negócios para concentrar os nossos esforços e alocar a maior parte dos nossos recursos ao que é estratégico.
Aprendizagem frugal é, de certa forma, desaprender. É amar o problema e não a solução! E não ficar preso a um único meio ou modo de resposta para todos os desafios.
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